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“Cortar o cabelo para muitas crianças com autismo é um trauma, agora se transformou em um processo terapêutico”, conta dona do Salão Franjinha focado para crianças autistas

Atualizado: 22 de ago. de 2024

Ideia surgiu quando Ana Camila Araújo observou dificuldades enfrentadas pelo filho autista ao cortar cabelo

Salão Franjinha, localizado na Av. Maria Quitéria, no bairro Trem. Foto: Ana Camila Araújo


Após enfrentarem dificuldades para cortar o cabelo do filho autista, Ana Camila Araújo, junto ao marido Frederico Carvalho, fundaram o Salão Franjinha em 2022 na cidade de Macapá, localizado na Av. Maria Quitéria, no bairro Trem. O salão é especializado em oferecer uma experiência acolhedora e adaptada às necessidades das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).


A ideia surgiu quando Ana percebeu que o único salão infantil onde atendia o filho Giovanni Carvalho, na época com oito anos, fechou. Sem conhecer outro estabelecimento para cortar o cabelo da criança, a empreendedora sentiu falta de profissionais capacitados para pessoas neurotípicas. 

Giovanni Carvalho junto com o pai Frederico Carvalho. Foto: Ana Camila Araújo


“Eu fiquei desesperada, não conseguia mais cortar o cabelo do meu filho. Eu ia em barbearias e era um problema, porque eles cortavam o cabelo do meu filho na tesoura, então eu tinha medo dele se machucar”, conta. 


Ana Camila Araújo, formada em Biologia e ex-professora, abandonou a carreira após receber o diagnóstico de autismo do filho mais novo, hoje com 10 anos de idade. Ao perceber que a criança tinha medo das máquinas e da tesoura, também com receio de que pudesse se machucar, ela se dedicou a estudar sobre o autismo e, posteriormente, decidiu se especializar na área da beleza, realizando diversos cursos com foco no atendimento humanizado para autistas. Diante das dificuldades que enfrentava, ela decidiu abrir o Salão Franjinha.

Ana Camila Araújo junto do marido Frederico Carvalho. Foto: Brenda Pires


“O objetivo do salão era conseguir cortar o cabelo do meu filho, que era um grande desafio. O que antes era um tormento agora se tornou muito mais fácil para as crianças. Muitas vezes, os pais chegam ao salão dizendo que seus filhos são agitados, mas aqui as crianças se divertem e ficam calmas”, relata. 


Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentam Transtorno do Processamento Sensorial, podendo apresentar Hipersensibilidade Tátil (comportamento aversivo ao toque leve) e Hipersensibilidade Auditiva (comportamento aversivo a sons inesperados e/ou altos). Quando apresentam tais características, a realização de atividades cotidianas como cortar o cabelo pode ser um momento de estresse e desconforto, tanto para criança quanto para a família que o acompanha.


Vivenciando as mesmas experiências que outros pais de crianças autistas, Ana decidiu criar um ambiente lúdico, com brinquedos, aparelhos e equipamentos especialmente projetados para oferecer conforto às crianças. Segundo a cabeleireira, elas precisam de foco, especialmente durante o corte de cabelo. Por isso, montou um espaço onde o cliente pode brincar enquanto os profissionais cortam os cabelos das crianças de forma segura e tranquila.


“A gente lida com muitas histórias de superação. A criança acaba superando seus medos, aquilo que era um trauma (cortar o cabelo), onde crianças foram cortadas, machucadas, aqui no salão elas acabam perdendo o medo desse processo”, explica.

Espaço lúdico para crianças. Foto: Ana Camila Araújo


Como pais atípicos, o casal sentia que não eram devidamente representados ou respeitados devido às condições dos filhos, onde os dois são autistas. Ana relata ter enfrentado constrangimentos e desrespeito de pessoas que não sabiam como lidar com a situação das crianças. O diferencial do Salão Franjinha é o atendimento humanizado, que, ao focar nas necessidades das crianças, também considera as necessidades dos pais.


“Nosso foco é o atendimento, pois percebemos que isso faz com que os pais se sintam representados. Acolhemos não apenas as crianças, mas também os pais. Ter alguém em quem contar e se apoiar é essencial; foi exatamente esse tipo de suporte que eu desejava ter na época do diagnóstico do meu filho, mas não encontrei. Esse apoio é o que procuro oferecer aos meus clientes”, relata.

Salão Franjinha. Foto: Ana Camila Araújo


A empreendedora revela que os clientes frequentemente se tornam amigos próximos, conversando entre si, trocando contatos e formando grupos sobre autismo.


O diferencial do Salão Franjinha 


Após se especializar em várias áreas da beleza e aprofundar seu conhecimento sobre o autismo, a empreendedora, junto ao marido Frederico Carvalho, tornou-se cabeleireira. Atualmente, Ana conta com uma equipe de cinco funcionários, todos especializados no atendimento humanizado para clientes com necessidades específicas.


A mãe relata que muitos ex-funcionários não conseguiram lidar com as condições dos clientes devido à falta de experiência. Com 80% de seu público composto por crianças neuro divergentes, o Salão Franjinha se tornou uma referência em Macapá.


“Aqui a gente se adequa para a criança, se ela quiser sentar no chão para cortar o cabelo, vamos cortar o cabelo, se ela quiser cortar na cadeira, vamos cortar na cadeira”, conta. “A especialização a gente pega no dia a dia, conhecendo nosso cliente e sabendo da sua necessidade”.


Ana relata que, devido ao sucesso e à singularidade do espaço, o salão começou a atrair clientes de diversas faixas etárias de idade.


“Nosso foco principal são as crianças, mas agora também temos um espaço dedicado aos adultos. Muitas vezes, os pais precisam cortar o cabelo e não têm com quem deixar os filhos, então estou ajustando o ambiente para que possamos receber a família com ainda mais conforto e acolhimento”, finaliza.

Ambiente para pais e adultos. Foto: Ana Camila Araújo


O Salão Franjinha transformou-se em um ambiente terapêutico para todos os clientes. O atendimento humanizado e o foco dedicado ao bem-estar de cada pessoa foram fundamentais para a fidelização dos clientes. Além disso, as diversas especializações realizadas pela mãe, Ana Camila Araújo, desempenharam um papel crucial. Ao perceber as dificuldades enfrentadas pelos filhos, ela viu uma oportunidade de apoiar outros pais que enfrentam desafios semelhantes.


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