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De uma rivalidade criada pela mídia que surgiu a colaboração de sucesso entre Charli XCX e Lorde

Atualizado: 14 de ago. de 2024

Elas expõem pressões enfrentadas pelas mulheres, ao mesmo tempo em que afirmam a capacidade de agir durante a reconciliação em música.


Divulgação


Com o novo álbum radicalmente vulnerável, intitulado de BRAT, Charli XCX mostra sentimentos de insegurança, arrogância e humanidade. Na estreia, aconteceu algo raro, mas significativo, a reconciliação com Lorde, colega e cantora de longa data. A paz reinou por meio de um remix chamado de ‘The girl, so confusing version with lorde', lançado em 21 de junho, onde contam, em pontos de vista diferentes, o motivo do desentendimento entre elas. 


Ao lançar a primeira versão da música ‘Girl, so confusing’, muitos fãs especularam que Charli XCX estava falando de Lorde, por causa de versos como “às vezes eu acho que você me odeia” e “às vezes eu acho que eu odeio você”, porém a cantora recusou falar sobre o assunto durante entrevista ao Jornal The Guardian, alimentando ainda mais especulações. 



Na versão conhecida como "The girl, so confusing version with lorde", as duas cantoras trocam versos com sinceridade emocional profunda. Lorde entrega um extenso trecho em que expressa surpresa em relação aos sentimentos de Charli XCX, ela diz “Bem, honestamente, eu fiquei sem palavras quando acordei com sua mensagem de voz”, canta Lorde e continua “você me disse como estava se sentindo” e revela as próprias inseguranças, “eu estive em guerra com meu corpo”, “tentei passar fome para emagrecer,” e acrescenta: “eu estava imersa no ódio, enquanto sua vida parecia tão incrível”.


Ao ser entrevistada pela Rolling Stone, Lorde revela que ao escrever os versos para o remix, ela foi honesta sobre como estava se sentindo em relação a Charli XCX.


“Eu estava dizendo essas coisas para ela pela primeira vez. Havia muita crueza e imediatismo no que eu estava dizendo. Eu adoro que realmente tenhamos resolvido isso no remix. Há algo muito infantil nisso, algo muito meta e moderno. Somente Charli poderia fazer isso acontecer. Ela abriu um canal entre nós e isso me fez dizer coisas que nunca havia dito. Eu estava articulando coisas que nunca tinha dito ou talvez até coisas que nunca ouvi dizerem. Tudo isso foi uma grande honra ", afirmou Lorde.


Charli XCX e Lorde têm sido comparadas há bastante tempo, a ponto de Charli ter sido confundida com Lorde em uma entrevista. Desde então, essa confusão gerou uma piada interna duradoura entre fãs, que brincam dizendo que Charli XCX é, na verdade, Lorde.


Apesar da “diversão" que a competição entre artistas pode causar na internet, também há algo depreciativo e, às vezes, desagradável nesse cenário. Em um universo pop onde a indústria historicamente oferece pouco espaço para uma ampla gama de artistas femininas, as críticas parecem refletir essa limitação, com mulheres lutando por uma posição. 


Em entrevista para a Rolling Stone, Charli XCX revelou que a ideia de trabalhar em um remix foi de Lorde.



“Um dia antes do lançamento do disco, eu deixei uma mensagem de voz para ela (Lorde) que respondeu imediatamente e disse algo como: 'Oh, meu Deus, eu não fazia ideia de que você se sentia assim. Sinto muito'. E depois disse: 'Talvez eu deva estar em uma versão da música'. Eu nem sequer perguntei a ela. Ela que sugeriu”, conta.



Além da indústria musical e midiática rivalizar artistas femininas, existem pressões estéticas enfrentadas por essas mulheres, como a perda de peso mencionada por Lorde, e disputas tornam quase inevitáveis em um mundo onde mulheres precisam se proteger com uma espécie de armadura.


“É você e eu na moeda que a indústria adora gastar”, como canta Lorde, onde mostra essa realidade. Em outro verso da música, também cantado por Lorde, a cantora mostra como a pressão da mídia afeta sua aparência. “Garota, você anda como uma vadia” relata Lorde “quando eu tinha dez anos, alguém disse isso”.


Para o site especializado em música, Pitchfork, o que chamou atenção na letra do remix foi a forma que Charli XCX e Lorde abordaram o assunto, de forma honesta e crua. 



“Em vez de atacar e agir como vilãs, elas estavam sendo transparentes sobre sentimentos de competição e rivalidade criados pela mídia durante anos”, declara. 



A força da reconciliação entre Charli XCX e Lorde reside no fato de que rivalidades raramente transcendem a mídia e se transformam em arte, como uma música criativa e sincera. Ouvir confissões sem filtro, expressas sem a interferência típica do pop em busca de terapia ou gerenciamento de imagem, é invadir um momento profundamente pessoal e real, como se tivesse acidentalmente testemunhado dois amigos discutindo diferenças de forma brutal, mas sincera. E, ao transformar isso em uma música que elas mesmas escrevem e interpretam, elas mantêm o controle sobre a narrativa, não permitindo que seja facilmente usado como arma ou mal interpretado pela mídia, como aconteceu com antigas rivalidades.


As cantoras ainda reconhecem que a internet e os fãs iriam a loucura como citam “e quando dermos um fim nisso, a internet vai enlouquecer”, mas também há uma grande dose de verdade emocional na canção. Em um momento em que conflitos reais dominam as notícias, essa reconciliação, por menor que seja, é tão elegante quanto comovente. 


Charli XCX tem sido, musicalmente, uma pioneira do pop por anos; agora, parece que ela está criando um novo modelo de como ser uma cantora pop. E quando Lorde canta “Eu sempre vou apoiar você, Charli”, ao fim da participação no remix, essa rivalidade criada pela indústria encerra de forma sincera com Charli XCX respondendo a amiga “eu também apoio você”.





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